quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Bosta de cachorro

Sabe aqueles dias que tudo pesa, que tudo dá errado? Estou vivendo! Para iniciar minha constante viagem lunática pego o ônibus, logo o circular (nem roda o bichim!) no sentido oposto. Enquanto tento desvendar os mistérios do meu celular e procuro à toa telefones de pessoas que nem mesmo sei quem são me distraio. O transporte percorre um caracol de lugares, para para pegar variados tipos de pessoas e eu lá, metida com o aparato tecnológico.

 Quando resolvo olhar em direção à janela, pensando visualizar a avenida 13 de Maio, pasmem, uma brisa gélida e agradável denuncia a proximidade com a praia. Descobri que estava na Historiador Raimundo Girão. Só muita paciência para tanta falta de atenção! Pressiono para baixo o barulhento cordão numa apreensão grande, um tormento interior para descer na imediata parada que houver. Ahhhh se fosse um poeta...ficaria feliz e logo se inspiraria para escrever um lindo poema de amor, dado o mar, a brisa e a aproximação de um romântico por do sol, mas eu sou poeta modernista, quero mais é reclamar a perda de tempo, o gasto da passagem e o tormento de enfrentar o caos do horário de maior movimentação.

 Ao descer do coletivo piso em uma bosta fresquinha de cachorro. Povo mal educado! Leva os animais para sair e nem se quer se presta a apanhar as sujeiras. E as multas por provocar um ambiente fétido e causar transtornos como o meu? e logo no meu tênis novo comprado em infinitas vezes no cartão! Minha mãe diria que isso é falta de muita oração! Lai vem o ônibus certo! Peraê que vou dar uma corridinha, pois o prezado motorista parou uns 100 metros depois da parada. Desilusão, ônibus lotado!

 Com muita boa vontade tento achar um lugarzinho espremido que seja possível o acesso à Internet. Em passos lerdos e incertos vem a conexão quando já nem esperava mais. Desconecto-me para não acabar logo a carga do aparelho e o guardo na bolsa. Dez minutos depois o trânsito congestionado me leva à busca de uma espiada de conexão. Para um riso frouxo e agoniado descubro uma ligação feita " por mim" de quase dez minutos e logo após a mensagem da faminta operadora implorando para eu colocar mais crédito (coisa que havia feito, generosamente, antes de sair de casa), pois eles estavam no fim. O formoso aparelho celular, não sei explicar como, pois estava bloqueado, ligou espontaneamente para o último contato e roubou quase inteiramente o saldo existente. Como fiquei feliz!!!

Uma súbita raiva ferveu-me o sangue, com isso, veio uma vontade de gastar logo todo o dinheiro que levava. A famosa farra do desgosto. Fui a uma das mais caras sorveterias da cidade e pedi logo umas três bolas de sorvete (em torno de R$ 25,00). Pedi os sabores mais doces e insuportáveis, pois fui inventar de experimentar novos gostos. Agora pobre e adocicada resolvo fazer o caminho de volta para casa na esperança de que o único crédito da carteira ainda estivesse no período da integração. Catraca maldita anunciou a total falta de crédito o que me fez descer e suportar a longa caminhada. Foram-se os únicos centavos e a minha esperança de ter uma volta mais tranquila.

 No caminho, um conhecido se presta a buzinar e faz um gesto pra mim. Carona será? Nada! Puro comunicação idiota em momento inoportuno. Ao chegar em casa a tia vem com aquele bolo pesado que só elefante feito na semana passada dizendo que se lembrou de mim. Aperta meu nariz e diz que estou mais cheinha e pergunta se é algum namoradinho. Família é coisa fora do sério. Coloco logo a vassoura detrás da porta para espantar mais visitas do tipo. Vou dormir já chega! Até parece que consegui! Um besouro insuportável resolve fazer a dança dos véus ao pé do meu ouvido. Após angustiantes lutas para o sono chegar ele me pega e me faz esquecer por algumas horas de tudo o que passou. Espero um novo dia cheio de paz e nada de aventuras toscas, por favor!

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