terça-feira, 7 de outubro de 2014

O grau da DOR

Em minhas últimas e sofríveis enfermidades, somadas a palestras e relatos de pessoas notórias que também conviveram por períodos com dores lancinantes, venho a me questionar até que ponto a dor é suportada pelo ser humano? Jesus, nosso Mestre, chegou a suar sangue nos momentos mais angustiantes. O querido padre Léo- homem de inesquecíveis fé e humor- em uma tarde recorreu centenas de vezes ao auxílio da morfina para aliviar as insuportáveis dores em seu tratamento contra o câncer.

Eu, pobre pecadora, tento suportar as dores sem tomar medicamentos para diminuí-las. Faço isso não por um ato de orgulho, de querer provar que sou superior- longe disso!- mas porque sou avessa a medicamentos paliativos, mascaradores e acho que umas dores, de vez em quando, purificam o espírito. Quando voltamos ao nosso estado de saúde aprendemos a valorizar mais as coisas simples que Deus nos proporciona.

Acamada é como me encontro nas últimas semanas. Assim, vejo a complexidade de ir dar uma volta na praça, quantos movimentos, que não chegamos a observar, somos dependentes para realizar essa tarefa. Uma dor na perna ou na coluna pode nos deixar imóveis. No meu caso tem sido os membros inferiores, um travamento inexplicável que me fez despender uma hora para chegar a um destino que me custaria meros 5 minutos. Como eu vi que a caminhada pode ser longa a depender do peso da nossa cruz!

A cada dor que sinto penso ser a pior do universo, mas noto que ela não acaba com a minha existência, mas me conscientiza de cada músculo, de cada movimento executado. Isso me faz lembrar de algumas das comprovações da existência divina por São Tomás de Aquino:  a do movimento e da perfeição.

Logo penso que minha dor física é ínfima se comparada à dor espiritual de uma mãe que perde um filho. Não imagino o quanto isso deve rasgar por dentro! A perda de um ente das entranhas que foi nutrido e acarinhado por dias, meses ou anos. Qual o nível das dores? A saúde espiritual nunca será preenchida. A cura é quase impossível! Com forças maiores essa mulheres podem escolher pela vida para se doar ao irmão, mas as feridas da alma estarão sempre presentes, mesmo que guardadas a sete chaves.

Reflito como, muitas vezes, reclamamos indevidamente, sendo zangões do cotidiano. Não vemos que o copo que nos é apresentado ainda contém a metade do líquido, mas só notamos a ausência do restante. Reclamamos por ter de subir em um transporte lotado e não percebemos que nosso irmão nem subir consegue por ser um cadeirante, por depender da ajuda de muitos que negam o auxílio- pessoas egoístas que não vivem o ser empático. Não entendemos que uma demora na fila pode nos ter salvado de um acidente fatal.

Devemos agradecer mais e reclamar menos. Cada um de nós apresenta qualidades peculiares. Seria tão bom que utilizássemos pelo menos uma qualidade em prol do outro! Penso que assim o nível de insatisfação com a vida teria um declínio considerável.

Pelos mais teimosos e resmungões podemos orar. E o que significa rezar? Quer dizer que nos colocamos à disposição de Deus- deixamos que Ele nos guie, não pedimos que Ele faça o que nós desejamos, mas o que Ele acha que nos é conveniente. Vamos deixar que o Senhor atue nas situações a que não nos cabem prosseguir.