segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

ORFANDADE

Sabe aquela sensação de ter abortado sem nunca ter ficado grávida? É a que tenho agora! Nossa amizade foi como uma gestação na qual a cada dia me afeiçoava mais a ti. No lugar de acariciar o ventre e cantar as velhas canções de ninar eu te escutava e procurava dar os melhores conselhos, mesmos aqueles que nem mesmo eu os seguia. Cuidava para que nunca sentísseis sozinho ou melancólico. Mesmo quando estava cheia de problemas a resolver tomava um tempo pra ti, como se aquilo fosse algo sagrado. Sentia-me aliviada com isso.

Os meses foram passando e a criança ia tomando forma, cada dia mais me apegava a ela. Os chutes, as dores, tudo era uma alegria a ser divulgada aos quatro ventos. Já perto de completar oito meses, contrações fortes me levaram a crer que era a hora do parto. Pedi, antes, ao motorista- um estranho que passava de carro- que me levasse à Igreja para que eu fizesse uma oração para que tudo ocorresse bem. Em meio a orações ‘desgovernadas’ tu vieste ao mundo com aquela carinha albina gordinha e chorona de menino mimado. Aos primeiros contatos, o motorista te tira dos meus braços ensanguentados e parte para não sei onde.

Fiquei ali por alguns momentos não acreditando que tivesse sido abandonada na porta da igreja, sem meu filho amado. Foi uma desilusão incalculável que, até hoje, depois de sete meses- quase o tempo de uma nova gestação- é difícil de assumir.

Peço muito e incansavelmente a Deus Misericordioso, mesmo sabendo que provavelmente só te verei novamente no CÉU que Ele te proteja por onde fores tendo a certeza de que tua mãe rezará dia e noite pela tua felicidade com o amor Ágape.

Mesmo sem saber se tu irás estudar, trabalhar, lutar pelos teus ideais peço a Ele força, paz e saúde em tua vida. Nossa amizade mãe-filho nunca cessará, mesmo que a distância seja incalculável.

Peço a Nossa Senhora das Graças que te faça um homem de fé que tu não sejas levado aos caminhos dos vícios- mesmo que todos os teus companheiros venham a te criticar- mas aos caminhos da oração. Saibas que tempestades com raios e trovões virão, mas que depois tudo passa e só a graça divina permanecerá. Não te esqueças, filho amado, de rezar por tua mãe, esta pobre pecadora! Peço perdão por ter te dado a vida sem poder cuidar de ti e acompanhar teus prodígios.

Criatura, tu tens o poder da doutrina! Segues os passos de Deus e tudo será menos doloroso.
Fique com Ele, e que Ele te abençoe e te guarde, sempre. Amém.