terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Qual a experiência no assunto?

Quando cheguei à minha casa a empregada logo me entregou o jantar: aquele imenso prato fundo se sopa que Mafaldinha iria adorar! Ao mesmo tempo, eu inspecionava as numerosas notícias por segundo que eram anunciadas na página principal de uma rede social. Do nada, larguei o prato de sopa e fui ao encontro da minha mãe para anunciar o tema da minha monografia: tinha decidido observar a linguagem utilizada em propagandas de motéis. A pobre mulher ficou de todas as cores olhando fixamente para mim sem ainda acreditar no que a filha tinha acabado de dizer. Chegou a gaguejar e chamou tudo de loucura, que eu deveria logo explicar o porquê da minha escolha em falar do local "proibido". Era uma vergonha (século XXI, vejam bem) uma mulher abordar tal assunto, disse isso em um tom repreensivo. Contra argumentando, disse que não iria descrever o ato em si, apenas a linguagem! Explicando também disse que conhecia um renomado professor que é pesquisador de anúncios pornográficos de jornais. Isso me encantou desde o princípio na faculdade. Notei que o acréscimo de informação não fez a menor diferença. Minha mãe disse logo que o mundo estava mesmo perdido e que me achava com juízo até a tal proposta. Ameaçou-me não ir a minha tão sonhada festa de formatura e nem ofertar mais a viagem às ilhas caribenhas tão programadas e milimetricamente calculadas financeiramente durante todo o curso. Fazer o quê? A liberdade de expressão pode custar caro, mas proporciona certas emoções impagáveis. Desde a adolescência, com o tal do namoro em casa, gostava de, entre uns beijos e outros, ouvir rádios românticas. O que mais me empolgava não eram as músicas em si, mas as propagandas, principalmente a dos motéis. A maneira de falar do anunciante, seja homem ou mulher, é reveladora- um tom misterioso, sexy que fertiliza a imaginação do ouvinte. Claro que ficava enrubescida diante do amante, porém tudo era encantador. Na hora da propaganda nem o melhor beijo valia a pena- que me desculpe o "love". Ele tinha até ciúmes do rádio e propunha trazer músicas ao gosto dele para serem tocadas como trilha sonora daquela paixão. Mal sabia ele que o encantamento mor era propagandístico, que ele ficava, no momento, em segundo plano. Sentia remorso daquele homão carente implorando atenção, mas a arte da conquista anunciada era mais impactante. Com o término do namoro fiquei com certa abstinência daquela programação noturna, pois, como um luto fechado, abandonei o rádio por longos novos meses. Foi o tempo de uma gestação, necessário para cambiar um pouco a rotina e ouvir a interminável e contínua sequência de músicas do mp4, tempo que as vozes instigantes calaram-se. Foi doloroso, pois a aproximação do rádio me fazia lembrar das brigas entre nós. Depois do período, em um sábado solitário, uma atração maior me fez sintonizar o rádio bem no momento do intervalo. Para a satisfação do meu ego uma voz máscula anunciava um pernoitão promocional de um luxuoso motel em área nobre da grande Fortaleza. Isso veio como uma luva em um dilema de temas para findar cinco anos de faculdade. Na rede social, no momento da sopa, vi a propaganda do famoso motel o que me fez ter a ideia inicial para o projeto. Um ano depois, meu trabalho ganhou nota máxima e a banca me sugeriu logo entrar no mestrado. Minha mãe não foi à formatura por princípios religiosos, não ganhei a viagem, mas fiquei muito feliz e ainda voltei com o ex. Este fofo ainda me deu de presente um lindo rádio para me inspirar. Tenho que confessar que jamais esquecerei esse lindo ato de amor, meu bem. Agora rimos juntos toda vez que o intervalo se aproxima. É um amor publicitário, criativo e eterno. Nossa festa de casamento será no motel do pernoitão. Advinha quem não comparecerá?! Antes teremos a celebração religiosa para não desagradar a minoria querida.

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