quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Topas

Nos últimos meses, obrigatoriamente, tenho sido refém de um transporte que muito me incomoda: as topics intermunicipais, ironicamente por mim chamadas de topas. Onde eu trabalho é o único meio  viável, pois o ônibus cobra dois olhos da cara enquanto a topic pede um olho e meio (irrisória diferença na diária, mas com o passar dos dias faz uma economia boa). Ambos rodam não com o intuito de oferecer um transporte de qualidade, mas tão somente pela ambição desenfreada de ganhar, ou melhor, de explorar.

Os carros são centenários- percebe-se que a manutenção é raríssima- e sem nenhum conforto. Os bancos são duros, muitas vezes quebrados; os vidros não têm fumê, ou seja, à tarde literalmente tostamos no sol escaldante. Sistema de refrigeração? Só se for em sonho!  O máximo que recebemos é o vento empoeirado, quente e com cheiro de diesel, daqueles que causam fadiga e só servem para embaraçar os fios de cabelo. Quem consegue ir sentado é como se tivesse ganhado na loteria, mas como punição deve aguentar, firmemente, os solavancos que deixam qualquer coluna cervical em estado de miséria.

Ser diariamente submetido a isso é um verdadeiro martírio! Amo de paixão meu trabalho, mas o percurso até ele é irritante. Paga-se caro, nada de conforto e um para-para dos infernos. Quem tiver pressa pode relaxar, pois elas param em todos os lugares em que virem um pé de pessoa. Além de ter de aguentar o humor variante de motoristas e cobradores somado às músicas em alto volume o que impede qualquer leitura.

 Acho um absurdo cobrarem a passagem de um idoso. Estatuto, cadê você? É um ato de desumanidade com quem por tantos anos lutou para conseguir um pequeno salário para custear tantas despesas. A passagem também é cobrada das menores crianças possíveis. Na lógica deles respirou pagou.

Outro fato fora de qualquer fiscalização é o uso desenfreado de celular pelos motoristas. Eles ficam desesperados com a concorrência de outras cooperativas (o nome é lindo, mas o sentido denotativo é de longe empregado) e se comunicam a cada segundo. Informam sobre a localização e o número do transporte. Isso é por demais perigoso aos passageiros que ou vão em pé em plena estrada ou mesmo sentado sem nenhum cinto de segurança. O perigo é constante, pois eles ficam tão focados no lucro que esquecem que estão transportando seres humanos.

Fico imaginando um assalariado, pai de família, tendo que se submeter a esses preços exorbitantes apenas para se locomover de um município a outro separados por uma distância tão irrisória. Sem dúvida eles teriam condição de cobrar o mesmo valor da passagem de Fortaleza ainda ganhando bem.
Outra indignação é mesmo eu sendo estudante na capital e trabalhando em outro município não tenho direito à meia estudantil e se fosse a situação invertida teria esse usufruto.

Há tantas injustiças nesta vida que mais uma menos uma já não causa espanto na população. Se todos tivessem a mesma mentalidade de vida minha a logística dos meios seria diferente da atual situação. Não se pode conformar em gastar um absurdo com transporte e ficar com déficit em alimentação, moradia, saúde e educação que são os mais primordiais setores que deveriam ser a base da pirâmide. Até Maslow sairia da cova ao presenciar tamanho absurdo! Falar em hierarquia das necessidades...procuro e não acho, na prática, a segurança. Essas topics vivem sendo assaltadas.
Tâmara, mulher, se conforma pois o povo em geral está acostumado a sofrer. Se acostuma também que a indignação passa!

Nenhum comentário:

Postar um comentário